sábado, 19 de dezembro de 2009

Cartão de Natal

CARTÃO DE NATAL
Frei Betto

Feliz Natal a quem não planta corvos nas janelas da alma, nem embebe o coração de cicuta e ousa sair pelas ruas a transpirar bom-humor.

Feliz Natal a quem cultiva ninhos de pássaros no beiral da utopia e coleciona no espírito as aquarelas do arco-íris. E a todos que trafegam pelas vias interiores e não temem as curvas abissais da oração.

Feliz Natal aos que reverenciam o silêncio como matéria-prima do amor e arrancam das cordas da dor melódicas esperanças. Também aos que se recostam em leitos de hortênsias e bordam, com os delicados fios dos sentimentos, alfombras de ternura.

Feliz Natal aos que trazem às costas aljavas repletas de relâmpagos, aspiram o perfume da rosa-dos-ventos e carregam no peito a saudade do futuro. Também aos que semeiam indignações, mergulham todas as manhãs nas fontes da verdade e, no labirinto da vida, identificam a porta que os sentidos não vêem e a razão não alcança.

Feliz Natal a todos que dançam embalados pelos próprios sonhos e nunca dizem sim às artimanhas do desejo. Aos que ignoram o alfabeto da vingança e jamais pisam na armadilha do desamor, pois sabem que o ódio destrói primeiro a quem odeia.


Feliz Natal a quem acorda, todas as manhãs, a criança adormecida em si e, moleque, sai pelas esquinas quebrando convenções que só obrigam a quem carece de convicções. E aos artífices da alegria que, no calor da dúvida, dão linha à manivela da fé.

Feliz Natal a quem recolhe cacos de mágoas pelas ruas a fim de atirá-los no lixo do olvido e guardam recatados os seus olhos no recanto da sobriedade. A quem resguarda-se em câmaras secretas para reaprender a gostar de si e, diante do espelho, descobre-se belo na face do próximo.

Feliz Natal a todos que pulam corda com a linha do horizonte e riem à sobeja dos que apregoam o fim da história. E aos que suprimem a letra erre do verbo armar e se recusam a ser reféns do pessimismo.

Feliz Natal aos que fazem do estrume adubo de seu canteiro de lírios. Também aos poetas sem poemas, aos músicos sem melodias, aos pintores sem cores e aos escritores sem palavras. E a todos que jamais encontraram a pessoa a quem declarar todo o amor que os fecunda em gravidez inefável.

Feliz Natal aos ébrios de transcendência e aos filhos da misericórdia que dormem acobertados pela compaixão. E a todos que contemplam ociosos o entardecer, observando como o Menino entra na boca da noite montado em seu monociclo solar.

Feliz Natal a quem não se deixa seduzir pelo perfume das alturas e nem escala os picos em que os abutres chocam ovos. E a todos que destelham os tetos da ambição e edificam suas casas em torno da cozinha.

Feliz Natal a quem, no leito de núpcias, promove uma despudorada liturgia eucarística, transubstanciando o corpo em copo inundado do vinho embriagador da perda de si no outro. E a quem corrige o equívoco do poeta e sabe que o amor não é eterno enquanto dura, mas dura enquanto é terno.

Feliz Natal aos que repartem Deus em fatias de pão e convocam os famélicos à mesa feita com as tábuas da justiça e coberta com a toalha bordada de cumplicidades.

Feliz Natal aos que secam lágrimas no consolo da fé e plantam no chão da vida as sementes do porvir. E aos que criam hipocampos em aquários de mistério e conhecem a geometria da quadratura do círculo.

Feliz Natal a quem se embebeda de chocolate na esbórnia pascal da lucidez crítica e não receia pronunciar palavras onde a mentira costura bocas e enjaula consciências. E a todos que, com o rosto lavado das maquiagens de Narciso, dobram os joelhos à dignidade dos carvoeiros.

Feliz Natal a todos que sabem voar sem exibir as asas e abrem caminhos com os próprios passos, inebriados pelos ecos de profundas nostalgias. E aos que decifram enigmas sem revelar inconfidências e, nus, abraçam epifanias sob cachoeiras de magnólias.

Feliz Natal aos que saboreiam alvíssaras nos bosques onde vicejam anjos barrocos e nadam suas gorduras deixando os cabelos brancos flutuarem sobre a saciedade de anos bem vividos. E a todos que dão ouvidos à sinfonia cósmica e, nos salões da Via Láctea, bailam com os astros ao ritmo de siderais incertezas.

Feliz Natal também aos infelizes, aos tíbios e aos pusilânimes, aos que deixam a vida escorrer pelo ralo da mesquinhez e, no calor de seus apegos, vêem seus dias evaporar como o orvalho aquecido pelo alvorecer do verão. Queira Deus que renasçam com o Menino que se aconchega em corações desenhados na forma de presépios.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O Nome da Rosa

O filme abaixo é um resumo da produção baseada no livro homônimo de Umberto Eco; "O Nome da Rosa" onde um frade franciscano muito parecido com Sherlock Holmes, que se vê em mosteiro cercado por mortes misteriosas; segredos; verdades absolutas; onde o riso é proibido e a razão ficou enlouquecida!!
"Vamos exercitar nosso cérebro" e desvendar este enigma!!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

DEDUÇÃO x INDUÇÃO

Raciocínio DEDUTIVO

Método proposto pelos racionalistas Descartes, Spinoza e Leibniz que pressupõe que só a razão é capaz de levar ao co-nhecimento verdadeiro. O raciocínio dedutivo tem o objetivo de explicar o conteúdo das premissas. Por intermédio de uma cadeia de raciocínio em ordem descendente, de análise do ge-26

ral para o particular, chega a uma conclusão. Usa o silogismo, construção lógica para, a partir de duas premissas, retirar uma terceira logicamente decorrente das duas primeiras, de-nominada de conclusão (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1993). Veja um clássico exemplo de raciocínio dedutivo:

Exemplo:

Todo homem é mortal............................................(premissa maior)

Pedro é homem......................................................(premissa menor)

Logo, Pedro é mortal..............................................(conclusão)

Raciocínio INDUTIVO

Método proposto pelos empiristas Bacon, Hobbes, Locke e Hu-me. Considera que o conhecimento é fundamentado na experi-ência, não levando em conta princípios preestabelecidos. No raciocínio indutivo a generalização deriva de observações de casos da realidade concreta. As constatações particulares le-vam à elaboração de generalizações (GIL, 1999; LAKATOS; MARCONI, 1993). Veja um clássico exemplo de raciocínio indu-tivo:

Exemplo:

Antônio é mortal.

João é mortal.

Paulo é mortal.

...

Carlos é mortal.

Ora, Antônio, João, Paulo... e Carlos são homens.

Logo, (todos) os homens são mortais.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Entrevista com: Mário Sérgio Cortella

O vídeo abaixo é primeira parte de duas de uma entrevista com o Filósofo e Professor de Filosofia Mario Sérgio Cortella no programa do Jô Soares; o segundo vídeo você pode assistir direto no youtube, através do link: http://www.youtube.com/watch?v=_D6KSnYtMFY

Depoimento sobre o Blog

Olá pessoal, este blog surgiu como possibilidade de interagir com os alunos e facilitar e orientar sobre alguma leitura, algum site e ou vídeo. Não são todos os alunos que fazem uso deste recurso, mas é muito legal e prazerozo quanto ele é util, quando um aluno diz: "tenho todos os textos que estão no blog em meu caderno, eu sempre imprimo e leio em casa"; ou ainda quando perguntam "isto está no blog", referindo-se à algum texto e ou vídeo trabalhado em sala de aula.
Inclusive utilizei este blog para realização de um trabalho acadêmico, uma pesquisa com os alunos (Pesquisa estudantil), foi muito eficiente.
Bom, o blog é uma ferramenta que não se mostra como única e ou última, mas não deve de forma alguma ser ignorada. Espero no próximo ano construir um blog junto com os alunos, utilizando o laboratório de computação da escola, acredito que será um desafio, mas que aprenderemos muito juntos.

Vitor Paulo Gabriel

OBS: este depoimento é parte de uma atividade realizada para o "Curso de Capacitação Docente (Estadual / UNIS-MG), através do SABE. Maiores informações sobre o SABE, acesse o link abaixo:
http://www.sabe.br/

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Textos de Filosofia

Outra boa dica para pesquisas e leitura sobre filosofia na rede mundial de computadores, você encontra através do link abaixo (são vários textos sobre os mais diversos temas filosóficos), aproveite, boa leitura:

http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/textos.htm

Dicionário de Filosofia!

Vivemos na era da informação, devemos fazer um bom uso das ferramentas tecnológicas a serviço da aprendizagem; confira o "Dicionário Escolar de Filosofia"; disponivel no link abaixo:
http://www.defnarede.com/

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Agostinho e a Cidade de Deus

A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NO PENSAMENTO POLÍTICO MEDIEVAL
Acredito que ao longo de quase toda a Idade Média, todo o pensamento político do mundo ocidental esteve cerceado pela ideologia moralista da Igreja Católica. Dessa forma, toda a produção teórica acerca da política buscava a formulação de um sistema de governo calcado moral cristã. A discussão política teve algum desenvolvimento na Idade Média. Notabilizou-se a Idade Média pela sua fé no regime teocrático, que mantinha o poder civil a serviço da Igreja. O Império foi convertido em Sacro Império Cristão. Acreditou-se que o poder civil desceria do alto para sobre os reis, tal como se supunha descer o poder religioso para sobre os papas.
Perceba que ao contrário das concepções da Antiguidade (em que a função do Estado é assegurar a vida boa), na Idade Média predomina a concepção negativa do Estado. Isto porque o homem teria uma natureza sujeita ao pecado e ao descontrole das paixões, o que exige vigilância constante, cabendo ao Estado intimidar os homens para que ajam retamente.
Na Idade Média configuram-se duas instâncias de poder: a do Estado e a da Igreja. O Estado é de natureza secular, temporal, voltado para as necessidades mundanas e caracteriza-se pelo exercício da força física; a da Igreja é de natureza espiritual, voltada para os interesses da salvação da alma e deve encaminhar o rebanho para a verdadeira religião por meio da força da educação e da persuasão. A tensão entre os dois poderes assumiu diferentes expressões no decorrer do longo período, criando inúmeros conflitos.
Ainda no final da Antiguidade, próximo à queda do Império Romano, viveu Santo Agostinho (354-430 d. C.), bispo de Hispona.

SANTO AGOSTINHO E A CIDADE DE DEUS
Santo Agostinho escreveu o livro A Cidade de Deus, em que afirmava que a cidade humana era essencialmente imperfeita, e que aqueles que vivessem em conformidade com os preceitos cristãos habitariam, após a morte, na Cidade de Deus, onde tudo era justo.
Santo Agostinho é o filósofo mais marcante deste período. Sua concepção é de que o Estado tem a função de controlar e vigiar o povo, evitando assim que este ceda às paixões, pecados e erros. Para Agostinho, O Estado deve procurar imitar a perfeição divina. Sua obra A Cidade de Deus é uma idealização de uma cidade ideal, regida de acordo com a perfeição divina, baseada no amor divino, na qual o pecado será aniquilado. Agostinho inspirou-se em Platão.
Essa mentalidade acabou por influenciar todo o pensamento político medieval, pregando a superioridade do poder espiritual sobre o poder humano. Isso levou a diversos conflitos entre reis e papas. Estes querendo impor-se como superiores por representarem Deus na terra. A Igreja se apresenta como o ideal perfeito de governo, já que se considera criada por Deus, portanto, modelo de justiça e perfeição.
Agostinho viveu o declínio da cultura, da civilização que havia sido a sua; assistiu, da África, a queda do Império Romano, a tomada de Roma por Alarico, em 410 d.C. Foi, pois, vivenciando a experiência de seus contemporâneos, pagãos e cristãos, extremamente confusos, os primeiros batendo em retirada diante da invasão dos bárbaros e os outros, frívolos, sem a têmpera dos mártires, foi precisamente dentro desta condição histórica que Agostinho escreveu a Cidade de Deus. Seus interlocutores não são abstratos, um público genérico, mas pessoas concretas, conhecidas, refugiados, que chegavam à África fugindo das invasões, cheios de medo e de mágoa, sem perspectiva, sem futuro. Roma, o símbolo de uma civilização, havia caído. Com a queda de Roma, caía também toda a esperança para o homem. A Cidade de Deus quer ser, pois, um procedimento retórico real para humanizar o homem e o salvar.
A estrutura desta obra é perfeita com um planejamento de catorze anos. Foi publicada aos poucos e seu esquema é dual, com coerência e consistência perfeitas. A primeira parte é uma reflexão sobre o culto pagão; a segunda, uma teologia da história. Em todo o texto o leitor se encontra com a antinomia das duas cidades: Babilônia é o lugar do cativeiro, o presídio; Jerusalém, o lugar da liberdade, da vida feliz. Duas cidades são assim duas formas de vida, duas maneiras de realizar a existência. Dois amores constituem dois modos distintos de construir a convivência entre os homens. As duas cidades são diferentes porque nascem de amores diferentes. Um amor luta para construir a cidade, a casa dos homens todos; o outro se fecha no egoísmo que oprime e domina os demais.
A Cidade de Deus é querer sinceramente o bem, à imitação do Pai que concede a sua graça a todos, que cumula a todos com sua benção e que só se deleita com a união de seus filhos. A origem da Cidade de Deus é, portanto, teológica e possui uma intersecção na existência histórica da sociedade. Ao contrário, a origem da cidade terrena é o apetite de domínio, de vingança, de soberba, gerando a guerra e o extermínio, a confusão e o caos. A paz é a consequência da concórdia total entre os que mandam e os que obedecem. Tanto quem manda quanto quem obedece deve amar e buscar a paz, a tranquilidade na ordem, a feliz disposição de todos no todo, a justiça em todas as suas dimensões. Só quem ama retamente chega à paz e alcança a virtude. Esta é o amor verdadeiro feito obra. A satisfação que só busca o próprio interesse é sem consistência e falsa, transitória e vazia, não leva a lugar algum, "morre em si mesma" porque em si mesma já é morta.
A partir de uma leitura residual da Cidade de Deus, se depreende uma visão de história como construção do Reino. Para Agostinho, a história não é cíclica, como os Gregos a concebem, mas é bíblica e, portanto, linear. Agostinho parte de um acontecimento que ocorreu uma única vez na história, a Encarnação do Cristo. Este evento quebra a síntese do eterno retorno e inaugura um fim para a história. Não caminhamos para trás, sonhando com o paraíso perdido, mas para frente, vivendo um tempo cheio de sentido, com formas, pleno, um presente contínuo, o tempo da graça. A história não é encontro sem significado, mas o tempo da salvação. Nossa obrigação é, portanto, construí-la, realizá-la. Viver o tempo é viver a vida e a sabedoria consiste em vivê-la devidamente. É verdade que o sentido da história não nos é comunicado imediatamente. O futuro é construído a partir do presente. O que se descortina diante de nossos olhos não nos pertence, é dom, é graça, é mistério, por isso o sentido da história não é visível. História é desafio, neste tempo preciso, nesta cadeia dialética grávida de prós e de contras, neste nosso agora cheio é que se dá a salvação, a graça, a proposta de Deus e a nossa resposta pela construção da cidade. É assim que a história cheia de fraquezas e misérias de cada indivíduo e de cada geração se transforma no Reino de amor e de paz que Deus quer para o seu povo.
O caráter espiritual da Cidade de Deus é patente no pensamento de Agostinho. Não se trata aqui, contudo, de uma teologia para gerir teocraticamente a sociedade. A cidade terrestre possui a sua autonomia, essa pode ser tanto a oposição a Deus, quanto o lugar onde se coloca em prática uma ordem de coisas segundo a sua vontade. Em nosso mundo contemporâneo, as sociedades se instalam entre uma existência sem referência, sem escatologia, sem utopia e uma ordem transcendental fechada é imposta pelos seus detentores. Ora, Agostinho é aqui, na Cidade de Deus, o crítico contundente desse dilema dualista (ensina-nos que a ação de Deus se encontra no mundo, na medida em que os homens se humanizam). Quando reinam a justiça e o amor verdadeiro entre os homens, a alma de toda civilização e o fundamento da paz, a Cidade de Deus acontece.

MONTEIRO, Consuelo Campos. Guia de Estudo – Filosofia da Política. Consuelo Campos Monteiro. Varginha: GEaD-UNIS/MG, 2009.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

PESQUISA ESTUDANTIL

Acesse o link abaixo e participe desta entrevista, colabore com o levantamento de dados para pesquisa sobre a educação e o processo de ensino aprendizagem:

http://spreadsheets.google.com/viewform?formkey=dEY4MjI5R2hvSmszYUpvNzdMQU9hUlE6MA

domingo, 18 de outubro de 2009

Na Natureza Selvagem

Um filme que nos leva a reflexão sobre os valores da sociedade atual, quanta hipocrisia encontramos nas relações socias e inclusive familiares!
Ainda nos remete a idéia de liberdade, a liberdade é possível? Ou ainda sobre objetivos, como traçamos nossos objetivos, ou apenas cminhamos espontanemente? O que realmente importa?

Assista ao trailer do filme no endereço abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=0YBDpPIhEYo

sábado, 19 de setembro de 2009

MONISMO

Chama-se de monismo (do grego monis, "um") às teorias filosóficas que defendem a unidade da realidade como um todo (em metafísica) ou a identidade entre mente e corpo (em filosofia da mente) por oposição ao dualismo ou ao pluralismo, à diversidade da realidade em geral. No monismo um oposto se reduz ao outro, em detrimento de uma unidade maior e absoluta.
As raízes do monismo na filosofia ocidental estão nos filósofos pré-socráticos, como Zenão de Eléia, Parmênides de Eléia. Spinoza é o filósofo monista por excelência, pois defende que se deve considerar a existência de uma única coisa, a substância, da qual tudo o mais são modos. Hegel defende um monismo semelhante, dentro de um contexto de absolutismo racionalista. O filósofo brasileiro Huberto Rohden é um grande teórico e defensor do monismo.
Em filosofia da mente, monismo é, no mais das vezes, materialismo sobre a natureza da mente.
Algumas religiões pagãs, como é o caso da Wicca, utilizam o conceito de monismo para explicar a crença de que tudo o que há foi criado por uma única divindade, neste caso, a figura de uma Deusa-Mãe como entidade cósmica primordial. Essa crença se baseia no fato de que, na natureza, os únicos seres capazes de gerar vida, de criar, são as fêmeas. Esta era a concepção dos povos antigos em seus cultos, e só depois de muito tempo é que surgiu a figura do Deus, que passou a dividir espaço com a Antiga Deusa através do dualismo.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Monismo

DUALISMO

Dualismo, ou dualidade foi uma doutrina estabelecida por René Descartes e Christian von Wolff quem primeiro utilizou o conceito em sua concepção moderna, segundo o qual "é o sistema filosófico ou doutrina que admite, como explicação primeira do mundo e da vida, a existência de dois princípios, de duas substâncias ou duas realidades irredutíveis entre si, inconciliáveis, incapazes de síntese final ou de recíproca subordinação."
O princípio da dualidade é amplamente utilizado na filosofia e física modernas e constitui uma das bases da moderna teoria quântica.
Na metafísica, chama-se de dualista ao sistema que explica o todo da realidade como composto de dois tipos de realidades distintas. A doutrina metafísica segundo a qual há duas substâncias, ou seja, dois tipos distintos e independentes de seres: material e espiritual. A substância material é definida como física e pode ser definida como a realidade do mundo empirico, que nós vemos, ouvimos, etc e medida pelos nossos sentidos bem como por instrumentos como microscópios, telescópios, radar, etc.
O mundo espiritual é descrito negativamente como não-físico, não-material, chamado psicológico, mental ou espiritual. Descartes chamou a mente de res(coisa) cogitas(pensante) e o corpo de res extensa(que ocupa lugar no espaço).
Na realidade o maior problema de Descartes foi a co-relação entre a mente e corpo, onde ele próprio atribui ao "tálamo", uma parte do cérebro, por ser 'pequenino', para dizer que possui relação com algo imaterial e não físico.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dualismo

MONISMO

Corpo e psiquismo III: A posição monista

CONSTENAÇÃO EM VERMONT - PHINEAS P. GAGE
Corre o verão de 1848. Estamos na Nova Inglaterra. A vida de Phineas P. Gage, 25 anos de idade e capataz da construção civil, está prestes a sofrer uma reviravolta. Um século e meio mais tarde, a sua ruína ainda será rica em ensinamentos.
Gage trabalhava para a Estrada de Ferro Rutland & Burlington e tem a seu cargo um grande número de homens, uma “brigada” cuja tarefa consistia em assentar os trilhos da ferrovia através de Vermont.
(...) aos olhos dos seus superiores, Gage não é apenas um outro par de braços. Definem-no como o homem “mais eficiente e capaz” que está ao seu serviço, algo de verdadeiramente importante, pois o trabalho requer tanto destreza física como concentração apurada, em particular quando chega o momento de preparar as detonações. Ë É preciso executar vários passos de forma metódica. Primeiro, é necessário fazer um buraco na rocha. Depois, encher o buraco até cerca de metade com pólvora, adicionar o rastilho e cobrir a pólvora com areia. A areia é então calcada com uma barra de ferro mediante uma cuidadosa seqüência de pancadas. Finalmente, o rastilho tem de ser acendido. Se tudo corre bem, a pólvora explode para dentro da rocha, e aqui a areia é essencial porque sem a sua proteção a explosão projeta-se para fora da rocha. A forma do ferro e o seu manuseamento também são importantes. Gage, que mandou fabricar uma barra de acordo com as suas próprias indicações, é um virtuose desse ofício.
E é agora que tudo se vai desenrolar. São 4h30 de uma tarde escaldante. Gage acabou de colocar a pólvora e o rastilho num buraco e disse ao homem que o estava ajudando para colocar a areia. Alguém atrás dele o chama e, por um breve instante, Gage olha para trás, por cima do ombro direito. Distraído, e antes de o seu ajudante introduzir a areia, Gage começa a calcar a pólvora diretamente com a barra de ferro. Num átimo, provoca uma faísca na rocha e a carga explosiva rebenta-lhe diretamente no rosto.
A explosão é tão forte que toda a brigada está petrificada. São precisos alguns segundos para se aperceberem do que se passa. O estrondo não é normal e a rocha está intata. (...) O ferro entra pela face esquerda de Gage, trespassa a base do crânio, atravessa a parte anterior do cérebro e sai a alta velocidade pelo topo da cabeça. Cai a mais de trinta metros de distância, envolto em sangue e cérebro. Phineas Gage foi jogado no chão. Está agora atordoado, silencioso, mas consciente. (...)
Sobreviver à explosão com uma tal ferida, ter sido capaz de falar, caminhar e permanecer coerente imediatamente após o acidente – tudo isso é deveras surpreendente. Mas igualmente surpreendente será também a sobrevivência à inevitável infecção que está prestes a desenvolver-se na ferida.(...)
GAGE DEIXOU DE SER GAGE
Podemos hoje em dia perceber exatamente o que aconteceu a partir do relato que o dr. Harlow - [o médico de Gage] - elaborou vinte anos após o acidente.(...)
A narrativa de Harlow descreve o modo como Gage recuperou suas forças e como o seu restabelecimento físico foi completo. Gage podia tocar, ouvir, sentir, e nem os membros nem a língua estavam paralisados. Tinha perdido a visão do olho esquerdo, mas a do direito estava perfeita. Caminhava firmemente, utilizava as mãos com destreza e não tinha nenhuma dificuldade assinalável na fala ou na linguagem. No entanto, tal como Harlow relata, o “equilíbrio, por assim dizer, entre as suas faculdades intelectuais e as suas propensões animais fora destruído. As mudanças tornaram-se evidentes assim que amainou a fase crítica da lesão cerebral. Mostrava-se agora caprichoso, irreverente, usando por vezes a mais obscena das linguagens, o que não era anteriormente seu costume, manifestando pouca deferência para com os colegas, impaciente relativamente a restrições ou conselhos quando eles entravam em conflito com os seus desejos, por vezes determinadamente obstinado, outras ainda caprichoso e vacilante, fazendo muitos planos para ações futuras que tão facilmente eram concebidos como abandonados… Sendo uma criança nas suas manifestações e capacidades intelectuais, possui as paixões animais de um homem maduro”. (...) As mais severas repreensões vindas do próprio Harlow falharam na tentativa de fazer que o nosso sobrevivente voltasse a ter um bom comportamento.(...)
Sofreu uma mudança tão radical que seus amigos e conhecidos dificilmente o reconheciam. Observavam entristecidos que “Gage não era mais Gage”. Era agora um homem tão diferente que os patrões tiveram de dispensá-lo pouco tempo depois de ter regressado ao trabalho, porque “consideravam a alteração de sua mente tão acentuada que não lhe podiam conceder seu antigo lugar”. O problema não residia na falta de capacidade física ou competência, mas no seu novo caráter.
POR QUE PHINEAS GAGE?(...)
O aspecto mais marcante dessa história desagradável consiste na discrepância entre a estrutura da personalidade normal que precedeu o acidente e as características de personalidade nefandas que emergiram a partir daí e permaneceram para o resto da vida de Gage. Ele tinha outrora sabido tudo o que precisava saber para efetuar escolhas que levassem ao melhoramento de sua pessoa. Tinha um sentido de responsabilidade pessoal e social que se refletia no modo como assegurava a promoção na carreira, se preocupava com a qualidade de seu trabalho e atraia a admiração de patrões e colegas. Estava bem adaptado em termos de convenções sociais e parecia ter seguido princípios éticos na sua conduta. Depois do acidente, deixou de demonstrar qualquer respeito pelas convenções sociais; os princípios éticos eram constantemente violados; as decisões que tomava não levavam em consideração seus melhores interesses mais genuínos; era dado a invenção de narrativas que, segundo as palavras de Harlow, "não tinham nenhum fundamento, exceto na sua fantasia". Não existiam provas de que ele se preocupava com o futuro, nem qualquer sinal de previsão acerca do mesmo.
As alterações na personalidade de Gage não foram sutis. Ele já não conseguia fazer escolhas acertadas, e as que fazia não eram simplesmente neutras. Não eram as decisões reservadas e apagadas de alguém cuja mente está prejudicada e que receia agir, mas decisões ativamente desvantajosas. Pode arriscar-se a idéia talvez de que ou seu sistema de valores era agora diferente ou, se era o mesmo, não existia maneira de seus antigos valores influenciarem as decisões que tomava. Não existem provas suficientes que nos permitam distinguir qual dessas hipóteses é a correta, embora minha investigação sobre doentes com lesões cerebrais semelhantes à de Phineas Gage me tenha convencido de que nenhuma das alternativas retrata o que na realidade acontece nessas circunstâncias. Uma parte do sistema de valores continua a existir e pode ser utilizada em termos abstratos, mas encontra-se desligada das situações da vida real.” (p. 23-32)


DAMÁSIO, António. O Erro de Descartes. Trad. D. Vicente e G. Segurado. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

Este texto foi extraído do Centro de Referência Virtual do Professor, que pertence à Secretária de Estado da Educação.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Corpo e psiquismo II: A posição dualista

Os fragmentos abaixo são de Descartes, através deste percebemos o pensamento racionalista, e a posição dualista de Descartes; estes fragmentos se encontram no Centro de Referência Virtual do Professor, no site da SEE. MG.

Meditação Primeira: Das Coisas que se Podem Colocar em Dúvida
§ 1.Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto; de modo que me era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente desde os fundamentos, se quisesse estabelecer algo de firme e de constante nas ciências. Mas, parecendo ser muito grande essa empresa, aguardei atingir uma idade que fosse tão madura que não pudesse esperar outra após ela, na qual eu estivesse mais apto para executá-la. (...)”

Meditação Segunda: Da Natureza do Espírito Humano; e de como Ele é Mais Fácil de Conhecer do que o Corpo
§ 3. Suponho, portanto, que todas as coisas que vejo são falsas; persuado-me de que jamais existiu de tudo quanto minha memória referta de mentiras me representa: penso não possuir nenhum sentido; creio que o corpo, a figura, a extensão, o movimentos, e o lugar são apenas ficções de meu espírito. O que poderá, pois, ser considerado verdadeiro? Talvez nenhuma outra coisa a não ser que nada há no mundo de certo.

§ 4. Mas, que sei eu, se não há nenhuma outra coisa diferente das que acabo de julgar incertas, da qual não se possa ter a menor dúvida? Não haverá algum Deus, ou alguma outra potência, que me ponha no espírito tais pensamentos? Isso não é necessário; pois talvez seja eu capaz de produzi-los por mim mesmo. Eu então, pelo menos, não serei alguma coisa? Mas já neguei que tivesse algum sentido ou qualquer corpo. Hesito, no entanto, pois que se segue daí? Serei de tal modo dependente do corpo e dos sentidos que não posso existir sem eles? Mas, eu me persuadi de que nada existia no mundo, que não havia nenhum céu, nenhuma terra, espíritos alguns, nem corpos alguns: não me persuadi também, portanto, de que eu não existia? Certamente não, eu existia sem dúvida, se é que me persuadi, ou, apenas, pensei alguma coisa. Mas há algum, não sei qual, enganador mui poderoso e mui ardiloso que emprega toda a sua indústria em enganar-me sempre. Não há, pois, dúvida alguma de que sou, se ele me engana; e, por mais que me engane, não poderá jamais fazer com que eu nada seja, enquanto eu pensar ser alguma coisa. De sorte que, após ter pensado bastante nisto e de ter examinado cuidadosamente todas as coisas, cumpre enfim concluir e ter por constante que esta proposição, eu sou, eu existo, é necessariamente verdadeira, todas as vezes que a enuncio ou em que a concebo em meu espírito. (...)

§ 9. Mas o que sou eu, portanto? Uma coisa que pensa. Que é uma coisa que pensa? É uma coisa que duvida, que concebe, que afirma, que nega, que quer, que não quer, que imagina também e que sente. Certamente não é pouco se todas essas coisas pertencem à minha natureza. Mas por que não lhe pertenceriam? Não sou eu próprio esse mesmo que duvida de quase tudo, que, no entanto, entende e concebe certas, que assegura e afirma que somente tais coisas são verdadeiras, que nega todas as demais, que quer e deseja conhecê-las mais, que não quer ser enganado, que imagina muitas coisas, mesmo mau grado seu, e que sente também muitas coisas como que por intermédio dos órgãos do corpo? Haverá algo coisa em tudo isso que não seja tão verdadeiro quanto é certo que sou e que existo, mesmo se dormisse sempre e ainda quando aquele que me deu a existência se servisse de todas as suas forças para ludibriar-me? Haverá, também, algum desses atributos que possa ser distinguido do meu pensamento, ou que se possa dizer que existe separado de mim mesmo? Pois é por si tão evidente que sou eu quem duvida, quem entende e quem deseja que não é necessário acrescentar aqui para explicá-lo. E tenho também certamente o poder de imaginar; pois, ainda que possa ocorrer (conforme supus anteriormente) que as coisas que imagino não sejam verdadeiras, este poder de imaginar não deixa de existir realmente em mim e faz parte do meu pensamento. Enfim, sou o mesmo que sente, isto é, que recebe e conhece as coisas como que pelos órgãos dos sentidos, posto que, com efeito, vejo a luz, ouço o ruído, sinto o calor. Mas dir-me-ão que essas aparências são falsas e que eu durmo. Que assim seja; todavia, ao menos, é muito certo que me parece que vejo, que ouço e que me aqueço; e é propriamente aquilo que em mim se chama sentir e isto, tomado assim precisamente, nada é senão pensar. Donde, começo a conhecer o que sou, com um pouco mais de luz e de distinção do que anteriormente.”

Meditação Quarta: Do Verdadeiro e do Falso
§ 2. É certamente a idéia que tenho do espírito humano, enquanto é uma coisa pensante e não extensa em longura, largura e profundidade, e que não participa de nada que pertence ao corpo, é incomparavelmente mais distinta do que a idéia de qualquer coisa corporal.(...)

Meditação Sexta: Da Existência das Coisas Materiais e da Distinção Real entre a Alma e o Corpo do Homem
§ 24. A natureza me ensina, também, por esses sentimentos de dor, fome, sede, etc., que não somente estou alojado em meu corpo, como um piloto em seu navio, mas que, além disso, lhe estou conjugado muito estreitamente e de tal modo confundido e misturado, que componho com ele um único todo. Pois, se assim não fosse, quando meu corpo é ferido não sentiria por isso dor alguma, eu que não sou senão uma coisa pensante, e apenas perceberia esse ferimento pelo entendimento, como o piloto percebe pela vista se algo se rompe em seu navio; e quando meu corpo tem necessidade de beber ou de comer, simplesmente perceberia isto mesmo, sem disso ser advertido por sentimentos confusos de fome e de sede. Pois, com efeito, todos esses sentimentos de fome, de sede, de dor, etc., nada são exceto maneiras confusas de pensar que provêm e dependem da união e como que da mistura entre o espírito e o corpo.
§ 33. “Para começar, pois, este exame, noto aqui, primeiramente, que há grande diferença entre espírito e corpo, pelo fato de ser o corpo, por sua própria natureza, sempre divisível e o espírito inteiramente indivisível. Pois, com efeito, quando considero meu espírito, isto é, eu mesmo, na medida em que sou apenas uma coisa que pensa, não posso aí distinguir partes algumas, mas me concebo como uma coisa única e inteira. E, conquanto, o espírito todo pareça estar unido ao corpo todo, todavia um pé, um braço ou qualquer outra parte estando separada do meu corpo, é certo que nem por isso haverá aí algo de subtraído do meu espírito (...)”.

DESCARTES, René. Meditações. Trad. J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. São Paulo: Nova Cultural, 1991. (Os Pensadores). pp. 173-174; 177, 197, 218, .

domingo, 23 de agosto de 2009

Corpo e Mente

Ao apreciar esta musica de Gilberto Gil, faça reflexões sobre a ralação entre corpo (fisico e alma (mente)

Cérebro Eletrônico
Gilberto Gil

O cérebro eletrônico faz tudo
Faz quase tudo
Faz quase tudo
Mas ele é mudo

O cérebro eletrônico comanda
Manda e desmanda
Ele é quem manda
Mas ele não anda

Só eu posso pensar
Se Deus existe
Só eu
Só eu posso chorar
Quando estou triste
Só eu
Eu cá com meus botões
De carne e osso
Eu falo e ouço. Hum

Eu penso e posso
Eu posso decidir
Se vivo ou morro por que
Porque sou vivo
Vivo pra cachorro e sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
No meu caminho inevitável para a morte
Porque sou vivo
Sou muito vivo e sei

Que a morte é nosso impulso primitivo e sei
Que cérebro eletrônico nenhum me dá socorro
Com seus botões de ferro e seus
Olhos de vidro

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Giordano Bruno

No site do UOL, você têm acesso a alguns textos sobre filósofos que se destacaram em suas épocas, confira no endereço: http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u20.jhtm
Você encontrará este texto abaixo de Giordano Bruno e outros como Tomás More, Erasmo de Roterdã.

Giordano Bruno

Bruno concebe Deus como alma e princípio ativo do mundo
Giordano Bruno nasceu em Nola (perto de Nápoles), em 1548, e morreu em Roma, a 17 de fevereiro de 1600. Discípulo do filósofo Franscesco Patrizi, membro da Academia Florentina, ingressou na Ordem dos Pregadores aos 17 anos de idade, lá permanecendo por dez anos, chegando a ser ordenado sacerdote e a receber o grau de doutor em Teologia em 1575.

Acusado de heresia, Bruno abandonou a ordem e se refugiou no norte da Itália, onde passou a ensinar. Sempre perseguido, viaja pela Suíça (onde se converte ao calvinismo para abandoná-lo pouco depois), Inglaterra, França, Alemanha, voltando a Veneza em 1592.

Em Londres, dedicou-se a ensinar na Universidade de Oxford, onde ministrou aulas sobre a cosmologia de Nicolau Copérnico, atacando o sistema aristotélico. Depois de várias discussões, abandonou Oxford e rumou para a França, onde, em 1585, após um debate público no Colégio de Cambrai, foi ridicularizado, atacado fisicamente e, por fim, expulso do país.

Nos cinco anos seguintes viveu em inúmeras cidades - Marburgo, Mainz, Wittenberg, Praga, Helmstedt, Frankfurt e Zurique -, dedicando-se a escrever sobre cosmologia, física, magia e a arte da memória. Demonstrou, mesmo utilizando um método errado, que o Sol era maior que a Terra.

Já em Veneza, denunciado pelo nobre Giovanni Moncenigo, é novamente acusado de heresia e preso pelo Santo Ofício. Reconhece os seus erros e parece livrar-se da fogueira. Mas, a pedido do papa, as autoridades venezianas, depois de alguma hesitação, o entregam ao tribunal da Inquisição de Roma. Fica encarcerado durante sete anos, negando-se a abjurar suas doutrinas, das quais não se retrata. Foi queimado em 1600.

Deus e matéria: uma mesma substância
Segundo as palavras do próprio Bruno sobre suas leituras, ele ficara fascinado por Heráclito, Parmênides, Demócrito, Lucrécio e Plotino, entre os antigos; e, entre os modernos, pelo "onisciente" Raimundus Lullus, o "magnânimo" Nicolau Copérnico e o "divino" Nicolau Cusano (ou Nicolau de Cusa).

Bruno defende a infinitude do universo, como um conjunto dinâmico que se transforma continuamente, do inferior ao superior, e vice-versa, num movimento constante, por ser tudo uma só e mesma coisa, como manifestação da vida infinita e inesgotável. Como o universo, também Deus é infinito, sendo-lhe imanente e transcendente ao mesmo tempo, sem nenhuma contradição, pois os opostos acabam por coincidir no infinito.

Para Bruno, o universo é uma coisa viva, todo ele regido por uma mesma lei, sendo Deus a mônada das mônadas (espécies de átomos orgânicos e viventes), que compõem o organismo do mundo. Deus está presente por toda parte, como poder infinito, sabedoria e amor, cabendo aos homens adorar toda essa infinitude com entusiasmo, numa unidade das crenças religiosas, além de qualquer dogma positivo.

A metafísica de Bruno pode ser denominada de monista, pampsiquista e para-materialista, sendo que ele concebe Deus como alma e princípio ativo do mundo - e a matéria como princípio passivo. Deus e matéria nada mais são, portanto, do que dois aspectos da mesma substância.

Depois de um longo período de esquecimento, por cerca de dois séculos, Giordano Bruno foi redescoberto nos fins do século 18 e começo do 19, através do pensamento dos românticos alemães, não sendo pequena a dose de sua filosofia nas idéias de Goethe.

Enciclopédia Mirador Internacional//La biblioteca ideale di Giordano Bruno

O RENASCIMENTO

Elogio da Loucura
Obra de Erasmo de Roterdã marcou Renascimento


O filósofo humanista e autor de O Elogio da Loucura

Uma das mais célebres obras filosóficas do Renascimento, "O Elogio da Loucura" foi escrito originalmente em latim ("Encomium Moriae") e publicada em Paris, no ano de 1511, pelo escritor, filósofo e teólogo Desidério Erasmo (1469-1536), dito Erasmo de Roterdã, porto holandês onde nasceu.

Desde seu título, ela é uma homenagem a Thomas More, autor da "Utopia" e grande amigo de Erasmo. Observe a semelhança entre o nome More e Moria (loucura). "O Elogio da Loucura" fez grande sucesso à época de seu lançamento e continua atual.

Deve-se destacar que se trata certamente de uma das obras filosóficas mais divertidas de todos os tempos, uma vez que seu autor resolveu escrevê-la de modo francamente satírico, em seus 68 breves capítulos.

Cristianismo e Protestantismo
No texto, a Loucura, personificada como uma entidade viva, faz seu próprio elogio e se demonstra a imperatriz da humanidade, uma vez que ela é a "mola oculta da vida" e ninguém lhe escapa.

É assim, em tom de brincadeira, que Erasmo denuncia males reais, como a ingratidão, a hipocrisia e a intolerância. Esta última, diga-se de passagem, ocupa uma posição de destaque na obra, de vez que se está num momento de grande litígio religioso. Lutero se erguera contra o papa, lançando as bases da Reforma protestante.

Erasmo, porém, coloca-se numa posição equidistante entre católicos e protestantes, zombando tanto da pretensão destes últimos, que reinterpretam o cristianismo, quanto da arrogância dos cristãos. Exatamente por isso, o pensador se torna a grande expressão do humanismo cristão do período.

Humanismo
O humanismo deve ser entendido como um movimento literário e filosófico que nasceu na Itália, na segunda metade do século 14 e se difundiu dali para os demais países da Europa, sendo a base ideológica do Renascimento. Constitui-se do reconhecimento do valor do homem na sua totalidade e a tentativa de compreendê-lo em seu mundo: a natureza e a história.

A perspectiva humanista considera o homem em sua totalidade, como ser formado de alma e corpo, destinado a viver no mundo e a dominá-lo. Nesse sentido, o humanismo faz mudar o foco dos estudos acadêmicos conforme eram orientados na Idade Média, deixando de lado a metafísica e afirmando a importância do conhecimento das leis, da natureza, da medicina e da ética. Isso constitui a base da ciência moderna.


Este texto e outros estão no site UOL:

http://educacao.uol.com.br/filosofia/ult3323u33.jhtm

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

As cinco vias de Tomás de Aquino

TOMÁS DE AQUINO
A Teodicéia é a especulação filosófica para provar a existência de Deus. Tomás de Aquino sustenta que nada está na inteligência que não tenha estado antes nos sentidos, razão pela qual não podemos ter de Deus, imediatamente, uma idéia clara e distinta. A fim de provar sua existência, Tomás procede a posteriori,
partindo não da idéia de Deus, mas dos efeitos por Ele produzidos. Assim, elege o mundo sensível como ponto de partida, cuja existência é dada pelos sentidos e utiliza a metafísica Aristotélica, revelando o seu gênio sintético ao demonstrar a existência de Deus, de cinco modos, que são as famosas cinco vias, que assim se resume:
1a. - A do "Movimento"- É o argumento aristotélico do primeiro motor. ("não é possível admitir uma série infinita de seres que se movem, movendo por sua vez outros seres; logo, é preciso chegar a um motor que mova sem ser movido."). O movimento existe e é uma evidência para os nossos sentidos; ora, tudo o que se
move é movido por outro motor; se esse motor, por sua vez, é movido, precisará de um motor que o mova, e, assim, indefinidamente, o que é impossível, se não houver um primeiro motor imóvel, que move sem ser movido, que é Deus.
Será que aqui poderíamos aventar a hipótese que Tomás de
Aquino, inspirado em Aristóteles, vislumbrou o Big Bang?

2a. - A da "Concatenação das Causas"-Tudo está sujeito à lei de causa e efeito. Há, pois, uma série de causas eficientes, causas e efeitos, ao mesmo tempo; ora, não é possível remontar indefinidamente na série das causas; logo, há uma causa primeira, não causada, que é Deus.

3a. - A da "Contingência"-Todos os seres que conhecemos são finitos e contingentes, pois não têm em si próprios a razão de sua existência, são e deixam de ser; ora, se são todos contingentes, em determinado tempo deixariam todos de ser e nada existiria, o que é absurdo; logo, os seres contingentes implicam o ser
necessário, ou Deus.

4a. - A dos "Graus de Perfeição"-Todas as perfeições admitem graus, que se aproximam mais ou menos das perfeições absolutas. Deve, pois, haver um ente sumamente perfeito, é o ente supremo - Deus.

5a. - A da "Ordem Universal"-Todos os entes tendem para uma ordem, não por acaso, mas por uma inteligência que os dirige; há, pois, um ente inteligente que ordena a natureza e a impele para o seu fim. Esse ente inteligente é Deus.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

GRIPE SUÍNA - PERGUNTAS E RESPOSTAS:

Gripe Suína e Vírus H1N11!

A gripe suína ou gripe "A" está tirando a calma de muita gente e preocupa o mundo inteiro, no próximo ano, 2010 já haverá a vacina contra este virus, e até lá é preciso ficar atento mas não em pânico. Cautela e canja de galinha nunca é demais!
Até lá o que é possível fazer: rever alguns costumes e procedimentos básicos de higiêne, limpeza e bons habitos, como lavar as mãos após ir ao banheiro, após manusear dinheiro e antes de qualquer refeitção; limpar e desinfetar utensílios utilizados e manuseados principalmente se utilizado por várias pessoas; e não coçar os olhos ou levar os dedos à boca.
Então nada de ficar chupando dedo ou roendo às unhas, somado a uma ótima alimentação, tudo isto é indispensável para a saúde com ou sem gripes suína, aviária, influenza, rota-virus e outros!!

Esta é uma dica legal, e abaixo algumas respostas para algumas perguntas frequentes:

PERGUNTA RESPOSTA

1.- Quanto tempo dura vivo o vírus suíno numa maçaneta ou superfície lisa?
Até 10 horas.

2. - Quão útil é o álcool em gel para limpar-se as mãos?
Torna o vírus inativo e o mata.

3..- Qual é a forma de contágio mais eficiente deste vírus?
A via aérea não é a mais efetiva para a transmissão do vírus, o fator mais importante para que se instale o vírus é a umidade, (mucosa do nariz, boca e olhos) o vírus não voa e não alcança mais de um metro de distância.

4.- É fácil contagiar-se em aviões?
Não, é um meio pouco propício para ser contagiado.

5.- Como posso evitar contagiar-me?
Não passar as mãos no rosto, olhos, nariz e boca. Não estar com gente doente. Lavar as mãos mais de 10 vezes por dia.

6.- Qual é o período de incubação do vírus?
Em média de 5 a 7 dias e os sintomas aparecem quase imediatamente.

7.- Quando se deve começar a tomar o remédio?
Dentro das 72 horas os prognósticos são muito bons, a melhora é de 100%

8.- De que forma o vírus entra no corpo?
Por contato ao dar a mão ou beijar-se no rosto e pelo nariz, boca e olhos.

9.- O vírus é mortal?
Não, o que ocasiona a morte é a complicação da doença causada pelo vírus, que é a pneumonia.

10.- Que riscos têm os familiares de pessoas que faleceram?
Podem ser portadores e formar uma rede de transmissão.

11.- A água de tanques ou caixas de água transmitem o vírus?
Não, porque contêm químicos e está clorada

12.- O que faz o vírus quando provoca a morte?
Uma série de reações como deficiência respiratória, a pneumonia severa é o que ocasiona a morte.

13.- Quando se inicia o contágio, antes dos sintomas ou até que se apresentem?
Desde que se tem o vírus, antes dos sintomas.

14.- Qual é a probabilidade de recair com a mesma doença?
De 0%, porque fica-se imune ao vírus suíno.

15.- Onde se encontra o vírus no ambiente?
Quando uma pessoa portadora espirra ou tussa, o virus pode ficar nas superfícies lisas como maçanetas, dinheiro, papel, documentos, sempre que houver umidade. Já que não será esterilizado o ambiente se recomenda extremar a higiene das mãos.

17.- O vírus ataca mais às pessoas asmáticas?
Sim, são pacientes mais suscetíveis, mas ao tratar-se de um novo germe todos somos igualmente suscetíveis.

18.- Qual é a população que está sendo atacada por este vírus?
De 20 a 50 anos de idade, mas os mais velhos devem se cuidar também.

19.- É útil a máscara para cobrir a boca?
Existem alguns de maior qualidade que outros, mas se você não está doente é pior, porque os vírus pelo seu tamanho o atravessam como se este não existisse e ao usar a máscara, cria-se na zona entre o nariz e a boca um microclima úmido próprio ao desenvolvimento viral: mas se você já está infectado use-o para não infectar aos demais, apesar de que é relativamente eficaz.

20.- Posso fazer exercícios ao ar livre?
Sim, o vírus não anda no ar nem tem asas.

21.- Serve para algo tomar Vitamina C?
Não serve para nada para prevenir o contagio deste vírus, mas ajuda a resistir seu ataque.

22.- Quem está a salvo desta doença ou quem é menos suscetível?
A salvo não está ninguém, o que ajuda é a higiene dentro de lar, escritórios, utensílios e não ir a lugares públicos.

23.- O virus se move?
Não, o vírus não tem nem patas nem asas, a pessoa é quem o coloca dentro do organismo.

24.- Os mascotes contagiam o vírus?
Este vírus não, provavelmente contagiem outro tipo de vírus.

25.- Se vou ao velório de alguém que morreu desse vírus posso me contagiar?
Não.

26.- Qual é o risco das mulheres grávidas com este vírus?
As mulheres grávidas têm o mesmo risco mas por dois, podem tomar os antivirais mas em caso de de contagio e com estrito controle médico.

27.- O feto pode ter lesões se uma mulher grávida se contagia com este vírus?
Não sabemos que estragos possa fazer no processo, já que é um vírus novo.

28.- Posso tomar acido acetilsalicílico (aspirina)?
Não é recomendável, pode ocasionar outras doenças, a menos que você tenha prescrição por problemas coronários, nesse caso siga tomando.

29.- Serve para algo tomar antivirales antes dos síntomas?
Não serve para nada.

30.- As pessoas com AIDS, diabetes, câncer, etc., podem ter maiores complicações que uma pessoa sadia que se contagie com o vírus?
SIM.

31.- Uma gripe convencional forte pode se converter em influenza?
NAO.

32.- O que mata o vírus?
O sol, mais de 5 dias no meio ambiente, o sabão, os antivirais, álcool em gel.

33.- O que fazem nos hospitais para evitar contágios a outros doentes que não têm o vírus?
O isolamento..

34.- O álcool em gel é efetivo?
SIM, muito efetivo.

35.- Se estou vacinado contra a influenza estacional sou inócuo a este vírus?
Não serve para nada, ainda não existe vacina para este vírus.

36.- Este vírus está sob controle?
Não totalmente, mas estão tomando medidas agressivas de contenção.

37.- O que significa passar de alerta 4 a alerta 5?
A fase 4 não faz as coisas diferentes da fase 5, significa que o vírus se propagou de pessoa a pessoa em mais de 2 países; e fase 6 é que se propagou em mais de 3 países.

38.- Aquele que se infectou deste vírus e se curou, fica imune?
SIM.

39.- As crianças com tosse e gripe têm influenza?
É pouco provável, pois as crianças são pouco afetadas.

40.- Medidas que as pessoas que trabalham devem tomar?
Lavar as mãos muitas vezes ao dia.

41.- Posso me contagiar ao ar livre?
Se há pessoas infectadas e que tussam e/ou espirrem perto, pode acontecer, mas a via aérea é um meio de pouco contágio.

42.- Pode-se comer carne de porco?
SIM pode e não há nenhum risco de contágio.

43.- Qual é o fator determinante para saber que o vírus já está controlado?
Ainda que se controle a epidemia agora, no inverno boreal (hemisfério norte) pode voltar e ainda não haverá uma vacina.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O que é filosofia? a pergunta que não cessa!

Vale a pena ver este vídeo que é a primeira parte de duas, de uma entrevista no programa do Jô com o filósofo e professor de filosofia Mario Sergio Cortella, e no you tube vocês podem conferir outros vídeos bem como a segunda parte desta entrevista.
Cortella se expressa muito bem e nos leva a ponderar sobre a importância da filosofia, a que serve na nossa vida, por quê o espanto é algo positivo?

terça-feira, 7 de julho de 2009

Textos de interesse flosófico

No endereço abaixo você tem acesso à vários textos filosóficos, incluindo alguns classícos como:
Aristóteles: a Política, a Arte Poética e os Tópicos.
Descartes: Discurso do Método.
Erasmo de Rotterdam: Elogia da Loucura.
Espinosa: Tratado sobre a Correção do Intelecto.
Heidegger: ‘O que é Isto, a Filosofia?’ e ‘O que é Metafísica?’.
Hume: Ensaio acerca do Entendimento Humano,.
Kant: Crítica da Razão Prática.
Maquiavel: O Príncipe.
Pascal: Pensamentos.
Platão: Apologia de Sócrates, O Banquete, Críton, Fédon, Filebo, Górgias, Parmênides e Teeteto.
Rousseau: Do Contrato Social.
Thomas Morus: Utopia.


sexta-feira, 3 de julho de 2009

Obedientes e rebeldes

Obedientes e rebeldes

Os grupos animais às vezes mudam suas pautas de conduta, de acordo com as exigências da evolução biológica, cuja orientação tende a assegurar a conservação da espécie. As sociedades humanas se transformam historicamente, de acordo com critérios muito mais complexos, tão complexos... que não sabemos quais são. Algumas mudanças tentam assegurar determinados objetivos, outras consolidar certos valores, e muitas transformações parecem provir da descoberta de novas técnicas para fazer ou desfazer coisas. O único ponto indubitável é que em todas as sociedades humanas (e em cada membro individual dessas sociedades) há razões para a obediência e razões para a rebelião. Somos tão sociáveis quando obedecemos pelas razões que nos parecem válidas como quando desobedecemos e nos sublevamos por outras que consideramos de maior peso. Porque a política não é mais que o conjunto das razões para obedecer e das razões para se sublevar...
Obedecer, rebelar-se: não seria melhor que ninguém mandasse, para que não tivéssemos de procurar razões para obedecer nem de encontrar motivos para nos sublevar? Esta é mais ou menos a opinião dos anarquistas, gente pela qual reconheço ter bastante simpatia. Segundo o ideal anárquico, cada um deveria agir de acordo com sua consciência, sem reconhecer nenhum tipo de autoridade. São as autoridades, as leis, as instituições, a aceitação de que uns poucos guiem a maioria e decidam por todos, que provocam as infinitas dores de cabeça de que os humanos padecem: escravidão,
abusos, exploração, guerras...
(...) É possível uma sociedade anárquica, isto é, sem política? Os anarquistas
têm razão, por certo, pelo menos numa coisa: uma sociedade sem política seria uma sociedade sem conflitos. Mas é possível uma sociedade humana – não de insetos ou de robôs – sem conflitos? Será a política a causa dos conflitos ou sua conseqüência, uma tentativa de que não sejam tão destrutivos? Seremos capazes de viver concordes... automaticamente? Parece-me que o conflito, o choque de interesses entre os indivíduos, é algo inseparável da vida em companhia de outros. E quantos mais formos, mais conflitos poderão vir a se produzir. Sabe por quê? Por uma causa que em princípio parece paradoxal: porque somos sociáveis demais.
(...) De modo que vivemos em conflito, porque nossos desejos se parecem muito uns com os outros e por isso colidem uns contra os outros. Por excessiva sociabilidade também (por querermos ser todos muito semelhantes, por fidelidade excessiva aos da nossa terra, religião, língua, cor da pele etc.), que nos faz considerar inimigos os diferentes e proscrever ou perseguiros que diferem.
(...) No entanto, não acredite que o conflito de interesses, qualquer conflito ou confronto, seja ruim em si. Graças aos conflitos a sociedade inventa, se transforma, não pára. A unanimidade sem sobressaltos é muito tranqüila, mas revela-se tão letalmente soporífera quanto um encefalograma plano. A única forma de assegurar que cada um tenha personalidade própria, isto é, que sejamos verdadeiramente muitos e não um só feito por muitas células, é que de vez em quando nos confrontemos e rivalizemos com os outros. Talvez todos nós queiramos a mesma coisa, mas, ao nos enfrentarmos para consegui- lo ou ao focalizarmos o mesmo assunto de diferentes perspectivas, constatamos que não somos todos a mesma pessoa. Às vezes os que gostam de dar ordens dizem: “Vamos, todos como um só homem! De pé, todos como um só homem!” Belo disparate coletivista. Por que diabos temos de fazer todos alguma coisa como um só homem... se não somos um mas muitos? Façamos o que for, em harmonia ou discordância, é melhor fazê-lo como trezentos homens, ou como mil, ou como quantos formos, e não como um, já que não somos um.
(...) Repassando a história, tanto a mais antiga como a mais contemporânea, confesso-lhe que chego à conclusão de que essas objeções contrárias aos chefes e ao Estado têm bastante fundamento. Mas também acho evidente que esperar o milagre de que milhões de seres humanos consigam viver juntos de maneira automaticamente harmoniosa e pacífica, sem nenhum tipo de direção coletiva nem certa coação que limite a liberdade dos mais destrutivos ou dos mais imbecis (costumam ser os mesmos), não é coisa que pareça compatível com o que os humanos foram, são... nem com o que, pelo que tudo indica, poderão vir a ser. De modo que considero indispensáveis algumas ordens... ainda que não qualquer tipo de ordens; certos chefes... embora não qualquer tipo de chefes; algum governo... mas não qualquer governo. Voltamos assim – o que você quer que eu faça? – ao problema inicial, de que a política se ocupa: a quem devemos obedecer? Em que devemos obedecer? Até quando e por que temos de continuar obedecendo? E, claro, quando, por que e como será necessário rebelar-se?

Fernando Savater, Política para meu filho, São Paulo, Martins Fontes, 1996, p. 38-48

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Cursos CNI/SENAI

O SENAI está oferecendo estes cursos na modalidade de ensino à distância, totalmente gratuito, a quem interessar acesse o site: http://www.senai.br/ead/transversais/

Competências Transversais

A ação inovadora “Competências Transversais”, prevista no Programa Educação para a Nova Indústria, tem as metas de desenvolver cinco cursos a distância sobre temas transversais e produzir um milhão de matrículas no período de 2007 a 2010.

As competências transversais são oferecidas na forma de cinco cursos a distância sobre os seguintes temas transversais: Educação Ambiental, Empreendedorismo, Legislação Trabalhista, Segurança do Trabalho e Tecnologia da Informação e Comunicação.


sexta-feira, 26 de junho de 2009

Breve Manifesto em Favor do Politicamente Incorreto
Ou ainda, Em Defesa da Diversidade de Pensamento

Vivemos tempos em que prevalece o politicamente correto. Temos que pensar toda e qualquer palavra que proferimos ou escrevemos para que não corramos o risco de sermos censurados. Groucho Marx, comediante americano da primeira metade do século XX, certamente sofreria muito com tal situação. Mestre do incorreto, do humor ácido e cínico, que colocava seus interlocutores em situação delicada, Groucho não media seus dizeres e, ao menos nos filmes, não parecia se importar com a opinião alheia.
Certamente não é o que ocorre hoje em dia. Todos os nossos passos, versos, falsetes, atos e percursos sendo percebidos, analisados, julgados como estão, paralisam a espontaneidade e privam o mundo da graça e da loucura que por vezes parecem tão necessárias.
Talvez por isto em “O Cavaleiro das Trevas” o Coringa tenha feito muito mais sucesso que o Batman. O bandido pôde se atrever a falar aquilo que o mocinho encapuzado tinha que conter entre suas línguas, para não parecer fora de contexto...
Mas como já pude destacar em outro texto, temos tanto o Coringa quanto o Batman correndo em nosso sangue. Calar um dos lados não é exercício que devamos fazer, a censura a nós mesmos é uma violência tão grande e extrema quanto a própria coerção realizada contra terceiros.
É certo que cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém e que, portanto, em alguns momentos medir as palavras antes de proferi-las pode ser ato de autopreservação. Nestes momentos compete a cada um de nós, utilizando o melhor de nossos neurônios, ordenar os pensamentos e abrir a boca (se preciso for) apenas quando se fizer necessário e sempre no sentido de evitar embaraços ou constrangimentos.
Mas estas situações devem constituir exceções e não a regra. Viramos a mesa de cabeça para baixo a tal ponto que hoje, quando alguém fala abertamente o que pensa e suas palavras contrariam o pensamento vigente, logo vem pedrada. Críticas chovem como se o diferente pensar fosse pecado. E a maior ironia nisto tudo é que é justamente na diversidade e na liberdade de expressão que reinam, sobretudo, os maiores avanços já vividos pela humanidade.
É certo, direto e mais do que premente resgatar, neste sentido, os dizeres de Voltaire, quando afirmava que “posso até não concordar com aquilo que você diz e pensa, mas lutarei até o fim de minha vida pelo seu direito de expressão de tais pensamentos”.
Outra grande contradição vem à tona quando vemos, por exemplo, as pressões imensas que foram feitas sobre o Papa e a Igreja Católica para que expiassem suas culpas quanto a condenação de Galileu Galilei, ainda na Idade Moderna, tão longínquo no tempo, admitindo que o cientista italiano tinha razão quanto a sua teoria heliocêntrica que contrapunha o teocentrismo cristão.
Não que pessoalmente eu considerasse tal ato inapropriado, ainda que tardio. Penso que a Igreja devia isto a Galileu. A contradição não reside na ação do clero católico, mas sim da turba que exigia esta retratação e que, por sua vez, erige tantas dificuldades para que fluam entre nós os pensamentos dissonantes, aqueles que não constituem a voz da maioria (por vezes tão burra, surda e cega, mas sempre tão impositiva quanto aos seus ditames).
Nelson Rodrigues já dizia que as unanimidades são burras. Apesar de reconhecer os méritos de sua obra, mas não ser simpatizante de seus escritos, Nelson Rodrigues tinha como um de seus maiores méritos a honestidade, a franqueza, a sinceridade e a língua solta que tanto nos faz falta nos dias de hoje.
Todo mundo é tão certinho, tão correto e, finalmente, tão político em suas ações e considerações que o mundo está ficando chato em demasia. É preciso incendiar um pouco o debate, trazer a tona àquilo que poucos ou ninguém se atreve, desafiar a lógica dominante e enfrentar a massa.
O jogo de cena que temos em andamento nos dias de hoje é tão entediante que, quando alguém surge em cena e diz aquilo que ninguém tem coragem de dizer, vira manchete de jornais, estrela da internet e ganha os noticiários das redes de rádio e televisão. Que o digam, por exemplo, muito recentemente, o bispo que defendeu a excomunhão dos médicos que praticaram o aborto em uma menina de nove anos de idade ou mesmo o político que, em tribuna, escancarou que pouco se lixava para a opinião pública.
Apesar de não concordar com seus posicionamentos, não posso deixar de destacar que eles foram, no mínimo, bastante valentes ao exporem publicamente aquilo que realmente pensavam. Apesar de não assinar embaixo daquilo que disseram, defendo (como Voltaire) o direito de livre expressão de ideias não só deles, mas de todo mundo que quiser falar o que pensa.
Ressalto apenas que, politicamente corretos ou incorretos, a diversidade dos pensamentos apresentados aqui, acolá e alhures é imprescindível para que todos possam crescer. Ainda que em determinados momentos tenhamos que ter “papas nas línguas” para a “batata quente” não arder em nossas mãos, e nisto entra, como já destaquei, a nossa capacidade de entender o contexto, as variáveis, as consequências e também a nossa representatividade, está faltando a pimenta que faz a vida ter a necessária ardência, brilho, evidência e sabor.
Por isso mesmo pensei neste texto como um breve manifesto em favor do politicamente incorreto e em prol da diversidade de pensamento e, desde já, deixo aberta a brecha para que mais opiniões (a favor ou contra) se juntem a esta reflexão...

João Luís de Almeida Machado Editor do Portal Planeta Educação; Doutor em Educação pela PUC-SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP); Professor Universitário e Pesquisador; Autor do livro "Na Sala de Aula com a Sétima Arte – Aprendendo com o Cinema" (Editora Intersubjetiva).

http://www.planetaeducacao.com.br

Cursos Gratuitos!

Cursos CNI / SENAI

Cursos gratuitos a dstância, vale a pena conferir:


Competências Transversais


A ação inovadora “Competências Transversais”, prevista no Programa Educação para a Nova Indústria, tem as metas de desenvolver cinco cursos a distância sobre temas transversais e produzir um milhão de matrículas no período de 2007 a 2010.

As competências transversais são oferecidas na forma de cinco cursos a distância sobre os seguintes temas transversais:
Educação Ambiental,
Empreendedorismo,
Legislação Trabalhista,
Segurança do Trabalho e
Tecnologia da Informação e Comunicação.


Para maiores informações e inscrição nos cursos acesse o site:
http://www.senai.br/ead/transversais/

terça-feira, 16 de junho de 2009

O Analfabeto Político

O Analfabeto Político
Berthold Brecht


O pior analfabeto
É o analfabeto político,
Ele não ouve, não fala,
nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida,
o preço do feijão, do peixe, da farinha,
do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.

O analfabeto político
é tão burro que se orgulha
e estufa o peito dizendo
que odeia a política.

Não sabe o imbecil que,
da sua ignorância política
nasce a prostituta, o menor abandonado,
e o pior de todos os bandidos,
que é o político vigarista,
pilantra, corrupto e o lacaio
das empresas nacionais e multinacionais.

(Berthold Brecht)

terça-feira, 26 de maio de 2009

CIDADANIA

O que é cidadania?

O que é ser cidadão?

Faça uma reflexão sobre nossa postura como seres sociais! Visite o endereço abaixo, compare com as suas respostas prévias.

Leia este convite aos jovens feito pelo site "www.webciencia.com",


Carta ao jovem

Caro jovem, não permita que a idéia de que somos desinteressados da realidade em que vivemos se prolifere: levante, lute e combata. Enquanto houver uma criança passando fome não se pode falar em felicidade e, muito menos, em cidadania. Conquiste seu título honroso de cidadão combatendo as atrocidades que hoje se alastram por cada canto de nossa sociedade. Através da cidadania é que iremos alcançar uma melhor qualidade de vida humana.



http://www.webciencia.com/18_cidadania.htm

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Curso de Escutatória

Curso de Escutatória

Sempre vejo anunciados cursos de oratória.
Nunca vi anunciado curso de escutatória.
Todo mundo quer aprender a falar…
Ninguém quer aprender a ouvir.
Pensei em oferecer um curso de escutatória, mas acho que ninguém vai se matricular.
Escutar é complicado e sutil.
Diz Alberto Caeiro que… Não é bastante não ser cego para ver as árvores e as flores.
É preciso também não ter filosofia nenhuma.
Filosofia é um monte de idéias, dentro da cabeça, sobre como são as coisas.
Para se ver, é preciso que a cabeça esteja vazia.
Parafraseio o Alberto Caeiro:
Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito.É preciso também que haja silêncio dentro da alma.
Daí a dificuldade:A gente não agüenta ouvir o que o outro diz sem logo dar um palpite melhor…Sem misturar o que ele diz com aquilo que a gente tem a dizer.
Como se aquilo que ele diz não fosse digno de descansada consideração…
E precisasse ser complementado por aquilo que a gente tem a dizer, que é muito melhor.
Nossa incapacidade de ouvir é a manifestação mais constante e sutil de nossa arrogância e vaidade.
No fundo, somos os mais bonitos…
Tenho um velho amigo, Jovelino, que se mudou para os Estados Unidos estimulado pela revolução de 64.
Contou-me de sua experiência com os índios: Reunidos os participantes, ninguém fala.
Há um longo, longo silêncio.
Vejam a semelhança…Os pianistas, por exemplo, antes de iniciar o concerto, diante do piano, ficam assentados em silêncio…Abrindo vazios de silêncio… Expulsando todas as idéias estranhas.
Todos em silêncio, à espera do pensamento essencial.
Aí, de repente, alguém fala.Curto. Todos ouvem. Terminada a fala, novo silêncio.
Falar logo em seguida seria um grande desrespeito, pois o outro falou os seus pensamentos…Pensamentos que ele julgava essenciais.São-me estranhos.
É preciso tempo para entender o que o outro falou.
Se eu falar logo a seguir…
São duas as possibilidades.Primeira: Fiquei em silêncio só por delicadeza.
Na verdade, não ouvi o que você falou.
Enquanto você falava, eu pensava nas coisas que iria falar quando você terminasse sua (tola) fala.
Falo como se você não tivesse falado.
Segunda: Ouvi o que você falou.
Mas, isso que você falou como novidade eu já pensei há muito tempo.
É coisa velha para mim.
Tanto que nem preciso pensar sobre o que você falou.
Em ambos os casos, estou chamando o outro de tolo. O que é pior que uma bofetada.
O longo silêncio quer dizer: Estou ponderando cuidadosamente tudo aquilo que você falou.
E, assim vai a reunião.
Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos.
E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia.
Eu comecei a ouvir.
Fernando Pessoa conhecia a experiência…E, se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras… No lugar onde não há palavras.
A música acontece no silêncio. A alma é uma catedral submersa.
No fundo do mar – quem faz mergulho sabe – a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos.
Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia…Que de tão linda nos faz chorar.
Para mim, Deus é isto: A beleza que se ouve no silêncio.
Daí a importância de saber ouvir os outros: A beleza mora lá também.
Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto.
“Escutatória”Rubem Alves

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Sócrates

Sócrates

A Vida

Quem valorizou a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientando-a para os valores universais, segundo a via real do pensamento grego, foi Sócrates. Nasceu Sócrates em 470 ou 469 a.C., em Atenas, filho de Sofrônico, escultor, e de Fenáreta, parteira. Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao ensino filosófico, sem recompensa alguma, não obstante sua pobreza. Desempenhou alguns cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Combateu a Potidéia, onde salvou a vida de Alcebíades e em Delium, onde carregou aos ombros a Xenofonte, gravemente ferido. Formou a sua instrução sobretudo através da reflexão pessoal, na moldura da alta cultura ateniense da época, em contato com o que de mais ilustre houve na cidade de Péricles.
Inteiramente absorvido pela sua vocação, não se deixou distrair pelas preocupações domésticas nem pelos interesses políticos. Quanto à família, podemos dizer que Sócrates não teve, por certo, uma mulher ideal na quérula Xantipa; mas também ela não teve um marido ideal no filósofo, ocupado com outros cuidados que não os domésticos.
Quanto à política, foi ele valoroso soldado e rígido magistrado. Mas, em geral, conservou-se afastado da vida pública e da política contemporânea, que contrastavam com o seu temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava que devia servir a pátria conforme suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos, temperados - diversamente dos sofistas, que agiam para o próprio proveito e formavam grandes egoístas, capazes unicamente de se acometerem uns contra os outros e escravizar o próximo.
Entretanto, a liberdade de seus discursos, a feição austera de seu caráter, a sua atitude crítica, irônica e a conseqüente educação por ele ministrada, criaram descontentamento geral, hostilidade popular, inimizades pessoais, apesar de sua probidade. Diante da tirania popular, bem como de certos elementos racionários, aparecia Sócrates como chefe de uma aristocracia intelectual. Esse estado de ânimo hostil a Sócrates concretizou-se, tomou forma jurídica, na acusação movida contra ele por Mileto, Anito e Licon: de corromper a mocidade e negar os deuses da pátria introduzindo outros. Sócrates desdenhou defender-se diante dos juizes e da justiça humana, humilhando-se e desculpando-se mais ou menos. Tinha ele diante dos olhos da alma não uma solução empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno da razão, para a imortalidade. E preferiu a morte. Declarado culpado por uma pequena minoria, assentou-se com indômita fortaleza de ânimo diante do tribunal, que o condenou à pena capital com o voto da maioria.
Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere - pois uma lei vedava as execuções capitais durante a viagem votiva de um navio a Delos - o discípulo Criton preparou e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo preparando-se para o passo extremo em palestras espirituais com os amigos. Especialmente famoso é o diálogo sobre a imortalidade da alma - que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito por Platão no Fédon com arte incomparável. Suas últimas palavras dirigidas aos discípulos, depois de ter sorvido tranqüilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio". É que o deus da medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Morreu Sócrates em 399 a.C. com 71 anos de idade.
Alêm deste texto, no link abaixo você encontra muitos outros textos, e muita informação sobre o "Mundo dos Filósofos": http://www.mundodosfilosofos.com.br/socrates.htm

sexta-feira, 8 de maio de 2009

SOBRE TEMPO E JABUTICABAS

SOBRE TEMPO E JABUTICABAS (autor desconhecido)
*Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui parafrente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos. Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'. Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral. Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:

'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os
rótulos'. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos,
quero a essência, minha alma tem pressa... Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado de Deus.Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.*

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Apologia de Sócrates

Na primeira parte da Apologia, Sócrates apresenta sua defesa, a seguir um trecho do capitulo IX:

"Além disso, os jovens ociosos, os filhos dos ricos, seguindo-me espontaneamente, gostam de ouvir-me examinar os homens, e muitas vezes me imitam, por sua própria conta, e empreendem examinar os outros; e então, encontram grande quantidade daqueles que acreditam saber alguma coisa, mas, pouco ou nada sabem. Daí, aqueles que são examinados por eles encolerizam-se comigo assim como com eles, e dizem que há um tal Sócrates, perfidíssimo, que corrompe os jovens. E quando alguém os pergunta o que é que ele faz e ensina, não tem nada o que dizer, pois ignoram. Para não parecerem embaraçados, dizem aquela acusação comum, a qual é movida a todos os filósofos: que ensina as coisas celestes e terrenas, a não acreditar nos deuses, e a tornar mais forte a razão mais débil. Sim, porque não querem, ao meu ver, dizer a verdade, isto é, que descobriram a presunção de seu saber, quando não sabem nada. Assim, penso, sendo eles ambiciosos e resolutos e em grande número, e falando de mim concordemente e persuasivamente, vos encheram os ouvidos caluniando-me de há muito tempo e com persistência. Entre esses, arremessaram-se contra mim Meleto, Anito e Licon: Meleto pelos poetas, Anito pelos artífices, Licon pelo oradores. De modo que, como eu dizia no princípio, ficaria maravilhado se conseguisse, em tão breve tempo, tirar do vosso ânimo a força dessa calúnia, tornada tão grande. Eis a verdade, cidadãos atenienses, e eu falo sem esconder nem dissimular nada de grande ou de pequeno. Saibam, quantos o queiram, que por isso sou odiado; er que digo a verdade, e que tal é a calúnia contra mim e tais são as causas. E tanto agora como mais tarde ou em qualquer tempo, podereis considerar essas coisas: são como digo."
Após condenado a morte Sócrates discursa para àqueles que o condenaram:
Apologia de Sócrates, 2ª parte cap.: XXX
"Mas também vós, ó juízes, deveis ter boa esperança em relação à morte, e considerar esta única verdade: que não é possível haver algum mal para um homem de bem, nem durante sua vida, nem depois da morte, que os deuses não se interessam do que a ele concerne; e que, por isso mesmo, o que hoje aconteceu, no que a mim concerne, não é devido ao acaso, mas é a prova de que para mim era melhor morrer agora e ser libertado das coisas deste mundo. Eis também a razão por que a divina voz não me dissuadiu, e por que, de minha parte, não estou zangado com aqueles cujos votos me condenaram, nem contra meus acusadores. Não foi com esse pensamento, entretanto, que eles votaram contra mim, que me acusaram, pois acreditavam causar-me um mal. Por isto é justo que sejam censurados. Mas tudo o que lhes peço é o seguinte: Quando os meus filhinhos ficarem adultos, puni-os, é cidadãos, atormentai-os do mesmo modo que eu os vos atormentei, quando vos parecer que eles cuidam mais das riquezas ou de outras coisas do que da virtude. E ,se acreditarem ser qualquer coisa não sendo nada, reprovai-os, como eu a vós: não vos preocupeis com aquilo que não lhes é devido. E, se fizerdes isso, terei de vós o que é justo, eu e os meus filhos. Mas, já é hora de irmos: eu para a morte, e vós para viverdes. Mas, quem vai para melhor sorte, isso é segredo, exceto para deus."


Para conferir o texto na integra acesse o link abaixo:
http://www.cfh.ufsc.br/~wfil/apologia.pdf

terça-feira, 14 de abril de 2009

O Mito de Prometeu

O mito de Prometeu

Quando chegou o momento de as raças mortais nascerem, os deuses as fabricaram através de uma mistura de terra e fogo. Antes de as trazerem da terra para a luz, encarregaram os deuses irmãos Prometeu e Epimeteu de repartirem os poderes entre os seres vivos, de modo a estabelecer uma ordenação boa e equilibrada no mundo. Epimeteu pediu a Prometeu para deixá-lo fazer a distribuição, permitindo que o irmão a verificasse ao final.
Ao repartir os poderes, Epimeteu dotava uns de força e lentidão, e dava velocidade aos mais fracos; ele "armava" uns (com membros) e aos que não tinham "armas" ele dava outra capacidade de sobrevivência. Aos pequenos, deu asas para que pudessem fugir; a outros deu tamanho grande, o que já lhes garantia a sobrevivência; na sua repartição, foi, assim, compensando as diferentes capacidades, para evitar que uma ou outra raça fosse destruída; depois de garantir a todos os meios de evitar a destruição mútua, começou a preparar para lhes proteger contra os perigos das estações; deu a alguns pelos e peles grossas para o inverno e para servir de cama, na hora de dormir; mas também deu, a outros, peles finas e poucos pelos, para o calor; a uns ele deu cascos, a outros peles sem sangue; depois deu para cada um alimentos diferentes, a uns plantas, a outros raízes; a uns deu como comida a carne de outros animais, dando-lhes também uma reprodução mais difícil, para que fossem em menor número; às suas vítimas, garantiu reprodução abundante, assegurando a sobrevivência das espécies.
Mas como não era exatamente sábio, Epimeteu gastou, sem perceber, todos os poderes com os animais que não falam; faltava ainda a raça humana, que não tinha recebido nada e ele ficou sem saber o que fazer!
Enquanto ele estava nesse impasse, chegou Prometeu e viu que todos os seres vivos estavam harmoniosamente providos de tudo o que precisavam, mas que o ser humano estava nu, descalço, sem coberta e "sem armas". E o dia marcado para eles saírem da terra para a luz já estava chegando. Sem saber então o que fazer para preservar os humanos, Prometeu resolveu roubar o fogo do deus Hefesto e o saber técnico da deusa Atena, e dá-los de presente para os humanos. Desse modo, o ser humano passaria a ter o necessário para a vida.
Por causa dessa proximidade com os deuses, o ser humano foi o primeiro a reconhecê-los e a dedicar-lhes altares e imagens; depois, graças à sua técnica, começou a emitir sons articulados e palavras, inventou as casas, as roupas e os calçados, as cobertas e os alimentos cultivados na terra. Assim equipados, os seres humanos viviam, primeiro, dispersos, pois não tinham cidades; ficavam expostos e, sendo mais fracos, eram mortos pelos animais selvagens; sua técnica, mesmo sendo uma grande ajuda para conseguir alimentos, era insuficiente na guerra contra os animais. De fato, eles ainda não possuíam a técnica da política, da qual faz parte a técnica da guerra. Eles tentavam se reunir para garantir sua sobrevivência, criando cidades, mas eram injustos demais uns contra os outros, se dispersavam e acabavam morrendo.
Prometeu havia dado aos humanos o saber técnico, sem o saber político, que estava com Zeus. Só depois, Zeus, temendo que nossa espécie se extinguisse totalmente, mandou o deus Hermes levar para os humanos o Respeito (aidós) e a Justiça (díke), para estabelecer a ordem nas cidades e as relações de solidariedade e amizade que reúnem os homens. Hermes perguntou a Zeus como deveria distribuir o Respeito e a Justiça: do mesmo modo como distribuiu as outras técnicas, ou seja, poucos com cada uma, para servir muitos? Ou seria o caso de distribuir o Respeito e a Justiça igualmente para todos? Zeus ordenou que ele fizesse de modo com que todos participassem desses dois dons divinos, pois não seria possível ter cidades, se só alguns poucos os tivessem; ordenou também que fosse instaurada a seguinte lei: que fosse condenado à morte o homem que se mostrasse incapaz de receber e exercer o Respeito e a Justiça.

Tarefa-questão para o Potfolio:

Protágoras que escreveu esta versão acima do mito de Prometeu, disse certa vez que:
“o homem é a medida de todas as coisas”.
O que diferencia o ser humano dos outros animais?
O que é o Homem?

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O Mito da Caverna de Platão

O mito da caverna

Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior.
A luz que ali entra provém de uma imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas.
Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna.
Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria.
Num primeiro momento, ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda sua vida, não vira senão sombras de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade.
Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los.
Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe, alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.
O que é a caverna? O mundo em que vivemos. Que são as sombras das estatuetas? As coisas materiais e sensoriais que percebemos. Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna? O filósofo. O que é a luz exterior do sol? A luz da verdade. O que é o mundo exterior? O mundo das idéias verdadeiras ou da verdadeira realidade. Qual o instrumento que liberta o filósofo e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros? A dialética. O que é a visão do mundo real iluminado? A Filosofia. Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembléia ateniense)? Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único verdadeiro.
Marilena Chauí – Convite à Filosofia
Assista ao vídeo de Paulo Ghiraldelli, comentando sobre o Mito da Caverna:

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Brasil ponto a ponto!

Participe: entre no site abaixo e registre sua opinião, faça sua voz ser ouvida!
Todos os dias você vê na televisão, jornal ou rádio, que um novo relatório foi publicado pelas Nações Unidas. Cada um desses relatórios tem um tema, um assunto, que quase sempre trata de uma questão importante. No entanto, poucas vezes existe a oportunidade de se perguntar às pessoas sobre o que elas desejariam que o relatório tratasse. Agora essa oportunidade existe, graças a uma iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).
Um novo Relatório de Desenvolvimento Humano, a ser publicado no início de 2010, está sendo preparado pelo PNUD, para o Brasil. Mais um relatório? – você pode dizer. Para que serve mais um relatório? Pode não servir para nada mesmo. Ou pode servir para muito. Depende de você. Depende da sua resposta. Depende das suas sugestões. Depende do seu interesse em receber o relatório, quando ele estiver pronto, para usar o que estiver lá dentro. Esse relatório quer falar sobre o que podemos fazer para termos desenvolvimento humano. Mas...o que é “desenvolvimento humano”? Muitos ainda acham que ‘desenvolver’ é apenas ter mais recursos materiais. Dinheiro e bens materiais podem ser importantes, afinal, saco vazio não para em pé, no entanto, ‘desenvolver’ é mais do que ter dinheiro. Quantas pessoas conhecemos que são pobres apesar de todo o dinheiro que têm? O desenvolvimento humano é promovido quando as pessoas podem levar vidas felizes e produtivas, nas quais elas tenham as capacidades e oportunidades para ser aquilo que desejam. Uma vida com desenvolvimento humano é uma vida sem discriminações, sem opressões, onde as pessoas possam ter a liberdade de escolha de suas opções de vida como também acesso aos meios para concretizar plenamente essas opções.
E o que é necessário para que os brasileiros tenham uma vida feliz e plena? O PNUD convida você a participar desse importante processo de debate e construção conjunta de soluções. A partir das opiniões dos participantes desse processo, será definido o tema do próximo Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, que será discutido junto ao governo e à população.
Somente através da participação das pessoas é que podemos ter conhecimento dos problemas que realmente afetam a vida de todos no país e estimular a busca de soluções para esses problemas. Como é o Brasil que queremos? Participe! Sua opinião é fundamental para o sucesso desse processo.
Equipe do Relatório de Desenvolvimento Humano


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